Imagem de Fernanda Prado
O currículo da disciplina de Educação Ambiental começa a ser construído com a pergunta: qual é o endereço da escola? Porque a grade da disciplina deve ser muito específica ao local em que se encontra a escola (no mar, na montanha, na vila, no bairro nobre…). Jamais se deve usar um cronograma pronto. Tudo deve se adaptar à realidade do aluno. Que realidade é essa? É o seu meio social, ambiental, econômico e cultural!
Muitos alunos pensam que no meio da cidade, ao redor do shopping, da escola, não existe um meio ambiente ecológico, ao contrário, pensam que meio ambiente é lá no rio, na mata, no mar e não na selva de pedra.
Ao inserir na consciência do aluno, através do debate na sala de aula, a presença da escola num meio ecológico, o aluno entende – tudo que é feito pelo homem se insere na natureza precisando adaptar-se à ela – é preciso projetar essa inserção, levando em conta as necessidades ambientais do meio local, o bairro, a cidade e suas fragilidades e levar em conta as necessidades educacionais pertinentes à Ecologia ou Educação Ambiental.
Fora do currículo existem ações da escola que tornam o discurso e a teoria minimamente equivalentes, mostrando coerência e portanto uma racionalidade lógica. Dentre os itens que requerem planejamento consistente se dá destaque ao:
- o saneamento dos resíduos sólidos e líquidos, principalmente se a rua não possui saneamento básico, rede fluvial e cloacal (realidade da maioria das cidades no Brasil);
- viabilidade energética, captação de energia solar com baterias para vender o excedente à rede distribuidora;
- reuso do lixo orgânico e resíduos de jardinagem em composteira;
- compras responsáveis (por exemplo: não uso de carnes de nenhuma espécie animal e não uso de laticínios);
- coleta de água da chuva e uso da água de poço, se houver.
O principal objetivo é produzir hábito ecológico, um pouco mais além da consciência ecológica, intelectualizando a opinião de todos os membros da escola em relação a prevenção ao pensamento fragmentado da ecologia, como se passasse ao largo da vida social e econômica. Constata-se um divórcio entre o ambiente “natural” e o ambiente “social”, como constata o autor do livro Ecoplamento, o ambientalista Gert Schinke ( editora Insular, Florianópolis, 2013).
A didática, a orientação tutorial da escola não deve usar o medo como recurso educativo. A mídia, os livros e os jornais, quando tratam de ecologia, falam sobre flagrantes de desmatamento, vazamento de petróleo, enchentes, apreensão de madeira ilegal, dentre outras situações dramáticas que em muito se assemelham àquelas questões da violência urbana, já tão tarimbada na mídia, na vida diária, principalmente nas comunidades pobres e nas vivências dos alunos.
“É uma ilusão imaginar que a ‘educação formal’ nos tirará da atual situação de ‘deseducação’ onde reina a ‘terraplanagem cultural’. Uma mudança de qualidade nesse sentido só acontecerá quando o primado da educação familiar voltar a ser valorizado como uma das bases fundantes para que os pequenos recebam uma educação abrangente e com valores compromissados com a sociedade ao seu redor. Ao contrário da irresponsável permissividade que só lhes concede direitos , mostra-lhes que no mundo há deveres e limites que todos devem obedecer”. (SCHINKE, 2013, p. 92).
A Educação Ambiental nas escolas formais trabalha isolada em uma espécie de nicho educativo (assim eu observei ao longo dos anos nas 5 escolas que lecionei e nas 3 escolas que estudei o Ensino Fundamental e Médio). A Educação Ambiental nas escolas formais, reproduz a dissociação entre as questões ecológicas do restante das questões que se apresentam no conhecimento geral, especialmente em relação às suas disciplinas mais complementares, como biologia, geografia, história, física, química, e isso acontece pelo desconhecimento da ecologia, pelo desinteresse dos professores e dos orientadores educacionais, que tem o receio de serem rotulados de “ecochatos”, então não se aprofundam no conhecimento ecológico.
O fato do isolamento da Educação Ambiental é consciente dos dirigentes públicos, dos supervisores e orientadores educacionais, que a Educação Ambiental só faz sentido se voltada a uma natureza sistêmica e interdisciplinar, que é o que pretende um bom currículo na escola.
“Enquanto o Ministério do Meio Ambiente do Brasil elabora programas e políticas públicas para a área da Educação Ambiental, por exemplo, o Ministério da Educação do Brasil , responsável direto pelo setor, sequer toma conhecimento dos mesmos, atuando em evidente descompasso. Esse fator de ‘gestão pública’ da questão, no entanto, se combina com o fato de que a matéria é ministrada pedagogicamente de forma equivocada, pois dissociada das demais dentro da grade curricular, quando, ao certo, deveria estar contemplada dentro das demais matérias”. (SCHINKE, 2013, p. 93).
Residi, fui discente e docente numa periferia por muitos anos, em Viamão RS. Quando existia um currículo específico à realidade local, esse se mostrava restrito, em geral se resumia e se resume na orientação para que se recolham materiais reciclados, pois é na periferia que já se encontra em larga escala a mão de obra gratuita e disponível para essa coleta dos excessos de consumo dos bairros mais ricos, ou menos pobres. A ecologia também costuma ser ‘pregada’ em palestras de especialistas, que separam os últimos 10 minutos para perguntas, o que não é pedagógico e deve ser tema de treinamento tutorial na escola.
A didática correta, segundo o meu ponto de vista, é a pedagogia ecológica que propõe estimular a curiosidade pela natureza, depois a admiração, a contemplação, para ir rumo ao amor e o respeito. Ensinando a observar o que é feito por Deus e não pelo homem para ir à observação das boas práticas. Assim como é feito, ou deveria ser, em família, com cuidado, e de forma acurada.
A didática tutorial correta, se baseia também, no debate sobre as informações dos processos de produção de alguns alimentos, roupas, calçados, drogas, armas, enfim, tudo que causa enorme impacto no seu meio ambiente e qualidade de vida, para que o aluno tenha subsídios para decidir consumir ou não consumir, ou até mesmo evitar ou diminuir o consumo, pois o consumismo é danoso, por exemplo: aumenta a criminalidade pois desperta no jovens da periferia o desejo de ter tudo o que os mais ricos possuem, mesmo estando aquém de suas possibilidades financeiras, esse desejo é o mote dos furtos, dos roubos, da entrada no tráfico de drogas ou do transporte de drogas para traficantes, é pelo consumismo que muito provavelmente se inicia a bandidagem, até mesmo a bandidagem de colarinho branco, dos políticos e empresários corruptos.
“Vivemos um modelo de civilização marcado pelo hiperconsumo, na raiz da agressão do homem à natureza, praticado no mundo de população imensa e crescente. Caracterizado pelo ‘use e jogue fora’, esse modelo nos obriga a trabalhar mais para consumir mais, a fazer coisas que não duram e a comprar sempre mais, porque as coisas estragam fácil, porque se o consumo não cresce, a economia paralisa e assim se propaga o desperdício. Pobre não é quem tem pouco, mas sim quem deseja muito, sempre mais e mais”. (MUJICA, Jose, ex presidente do Uruguai em seu discurso na Conferência Rio +20 em 28 de junho de 2012).
Este texto faz parte da dissertação de mestrado em Educação da jornalista, socióloga e orientadora educacional, Luana H. A. Schreiner.